segunda-feira, 5 de dezembro de 2016


A semana passada foi de dor para todos.
Essa semana morre Ferreira Gullar.
Há algo que para mim não faz muito sentido ficar expondo, porque fui eu que passei e cada um possui sua experiência e foi algo tão pessoal e transformador.
Eu fiquei um bom tempo internada entre UTI e quarto.
A doença que possuo (e cujo diagnóstico se fechou em maio este ano), deixou uma perda significativa de visão em ambos os olhos.
E, no ano que vem começo um tratamento preventivo para que a progressão, quem sabe, possa se estagnar.
O que mais marcou-me no período da internação foram duas coisas: ficar ao lado da Ala de Queimados (o qual eu precisava passar ao alado a porta, para ir à soleira) e depois a Ala dos Amputados (a soleira era justamente nessa ala).
Passei muito tempo em silêncio na soleira com várias pessoas: idosos, adolescentes, adultos.
Nós olhávamos a cidade do alto de uma ala, onde cada um trazia em si sua história.
Eu vi através da porta, uma criança de três anos na Ala de Queimados (toda enfaixada com um tecido que protege a pele) querendo brincar e sorrindo.
E, no silêncio da soleira junto com as outras pessoas que ali dividiam o espaço comigo, vinha a seguinte pergunta:
- Quem verdadeiramente se importa com a condição que nos encontramos e como vivemos?
Hoje, ver o noticiário, acompanhar twitter, ouvir nas ruas o quanto as pessoas falam mal de seus companheiros de trabalho, qual a última moda, tudo isso pouco importa.
O que eu me pergunto agora é:
- O quanto eu posso ficar em silêncio igual fiquei na soleira?
Mesmo que o mundo ainda grite dentro de mim.
Eu preciso encontrar esse lugar.
O que mais desejei às pessoas que sofreram esse acidente aéreo foi isso: encontrar um lugar de silêncio diante de todo e qualquer pensamento e sentimento que possa ter passado na mente de todos.
Essa música me acompanhou muito em pensamento durante o período da internação.
Tirando a parte do vinho (eu não bebo), essa música faz com que me lembre o médico que me acompanha em tratamento e como diz dr. Jared Leto, é meu exemplo de que a vida deve seguir.
Os adolescentes que dividiram a soleira comigo disseram que existem dois heróis na vida: os médicos e os cientistas.
Acho que eles têm razão., porque como eles disseram:
- Quando você encontra a resposta correta para sua doença através de um ser humano, tudo se encaixa.
Eles são tão jovens e tão sábios!

Foto extraída do site: http://4.bp.blogspot.com/

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